sábado, 22 de novembro de 2025

CORRER É UM ATO DE MAGIA

 

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CORRER COMO QUEM DESPERTA: A TRILHA OCULTA ENTRE O MOVIMENTO, A ARTE E O ABISMO

Correr sempre pareceu um ato simples demais para carregar mistério. Mas qualquer corredor sério sabe que existe um ponto — aquele momento em que o corpo some e só sobra o ritmo — em que algo abre dentro da cabeça.
É um portal.

O correr verdadeiro se transforma em ritual:
o ar entrando, o coração marcando o compasso, o chão repetindo o mantra dos passos.
A corrida é uma invocação do próprio “eu cru”, despido.
E isso sempre foi profundamente ocultista, mesmo quando ninguém ousava chamar assim.
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A Corrida como Ritual Ancestral

Antes de ser esporte, a corrida era magia:

  • mensageiros que corriam até o limite para levar palavras “sagradas”;

  • guerreiros que usavam longas distâncias como prova espiritual;

  • peregrinos que caminhavam e corriam como forma de purificação.

O movimento contínuo cria uma espécie de transe — um estado alterado de consciência semelhante ao descrito em ritos xamânicos, práticas meditativas extremas e até nas antigas escolas herméticas, que afirmavam: “Conhece o corpo para conhecer a alma.”

Quando o corredor entra em “flow”, ele toca a fronteira entre matéria e espírito.
Ali mora o simbolismo.
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O Ocultismo na Literatura de Movimento

A literatura sempre entendeu esse poder da jornada física como metáfora oculta.

O Senhor dos Anéis

Tolkien não escrevia sobre corrida, mas Frodo e Sam atravessando terras devastadas carregam o simbólico do “caminho como purgação”, o arquétipo do peregrino que atravessa mundos internos enquanto avança no terreno real — exatamente como um corredor no fim de um treino longo: cansado, exaurido, mas interiormente transformado.

A Odisséia, de Homero

O deslocamento constante é rito iniciático.
Ulisses não corre, mas vagueia de ilha em ilha como quem atravessa planos espirituais.
Cada etapa é um demônio, uma tentação, um arquétipo — modelo perfeito da corrida usada como metáfora espiritual.

No Caminho, de Jack Kerouac

A corrida aqui não é literal — mas o movimento desenfreado, a viagem interminável, funciona como busca pela transcendência. É o mesmo mecanismo: mudar o mundo externo para alterar o interno.

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O Cinema Captou a Corrida como Transe

O cinema viu a corrida e entendeu seu valor simbólico.

Carruagens de Fogo (1981)

Parece religioso — porque é. A corrida é transcendência pura, usada como ponte entre fé, ego e espírito.

Rocky (1976)

As corridas de Rocky ao amanhecer têm o mesmo valor de um ritual de magia do caos: repetição, dor, invocação da força interior.
O treino é o altar.
O corpo é o grimório.

Forrest Gump (1994)

Quando Forrest atravessa os EUA correndo, aquilo não é exercício: é catarse, transformação, exorcismo emocional.

O Iluminado (1980)

Mesmo sem corridas “atléticas”, o movimento pelos corredores — sempre em círculos, sempre repetitivo — carrega a mesma energia ritualística da corrida como alucinação.

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Quando Literatura, Corrida e Ocultismo se Fundem

Existe um ponto fascinante: a corrida como metáfora do rito hermético.

Hermes — o mensageiro dos deuses, símbolo da velocidade — é literalmente a figura que une magia, conhecimento oculto e movimento.
Ele é o patrono simbólico dos corredores espirituais.

A corrida é a estrada hermética:

  • o início é o profano,

  • o meio é o sofrimento,

  • o final é o renascimento.

É o ciclo do herói.
É alquimia.
É metafísica usando o corpo como laboratório.

Existe Obra que Mistura tudo Explicitamente?

Sim — e poucas pessoas percebem.

A História Sem Fim (Michael Ende)

Bastian atravessa mundos como um corredor atravessa quilômetros. O livro inteiro é um rito de passagem espiritual descrito como jornada física.

Promethea (Alan Moore)

Aqui Moore une magia, simbologia, mitologia e deslocamentos contínuos entre planos — é a mais forte fusão moderna entre literatura e ocultismo.
E Moore é corredor? Não.
Mas entende o movimento como veículo simbólico.

O Lobo da Estepe (Hermann Hesse)

Hesse usava deslocamento, caminhadas e movimento como metáfora do autodesvendamento — um material que qualquer corredor vai reconhecer instantaneamente.

A Bruxa de Blair (1999)

Os personagens correm pela floresta como quem corre dentro de um labirinto espiritual.
O medo vira rito.
O movimento vira desorientação ritualística.


Conclusão: Correr é um Ato de Magia

Todo corredor sabe que existe um lugar onde o treino termina e outra coisa começa:

  • silêncio interno,

  • dor que vira lucidez,

  • pressão que vira revelação,

  • corpo que vira símbolo.

A corrida é um sigilo em movimento.
Cada passo é uma letra.


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O percurso inteiro é o feitiço.

E no final de tudo — como nas melhores obras literárias e fílmicas — o corredor retorna para casa não igual, mas transformado.


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