Obs: O texto abaixo serve para esclarecer o conceito de Efeito Placebo e meta-crença
Marilia / BodyStuff
Acesso dia: 22/02/2019
“Efeito
placebo” é o nome do fenômeno que ocorre quando indivíduos aos quais se
administra uma substância inerte, mas que eles crêem ser um
medicamento, exibem os efeitos terapêuticos de cura ou melhoria da
condição patológica. Recentemente, esse fenômeno foi estudo do ponto de
vista de seus determinantes cognitivos, emocionais e biológicos.
Rajagopal, num artigo especial do Psychiatric Bulletin (Rajagopal 2006),
fez uma revisão das várias hipóteses que resultaram destes estudos. Uma
delas nega que haja um “efeito” placebo propriamente dito.
Ainda
que a taxa observada para o fenômeno em inúmeros estudos seja de cerca
de 30% de respostas e que difira de forma estatisticamente relevante do
grupo controle sem tratamento, alguns estudiosos sugerem que o efeito
seja apenas o de remissão espontânea da doença.
A
segunda hipótese é a do condicionamento clássico, pavloviano: pessoas
previamente tratadas com medicamentos para uma determinada condição se
condicionaram a responder a “tratamento”, seja ele qual for. A terceira,
mais abrangente, inclui outros fatores psicológicos derivados da
relação médico-paciente, contexto institucional, cor e tamanho do
placebo, etc. Um estudo de 1998 (Riet et al.) sugeriu que o efeito de
analgesia observado com placebo pode ser atribuído a endorfinas, e
estudos mais recente exploram o papel de outras substâncias mediadoras.
Exceto
pela hipótese de que o fenômeno não exista (que, embora tenha sido
proposta num estudo com análise quantitativa, pesa pouco diante do
volume de outros estudos quantitativos que demonstram sua existência),
as demais estão inter-relacionadas. Seja qual for o motivador – se um
condicionamento, motivação ou outro fenômeno qualquer – ele tem um
componente comum: a crença de que o que está sendo administrado tem o
potencial de curar ou aliviar a condição. Essa crença (derivada de
condicionamentos, ou seja, processos cognitivos do tipo “tratamentos
funcionam”, “pílulas coloridas são eficientes”, “coisas feitas em
hospitais melhoram os desconfortos”, etc.) gera o que quer que seja a
resposta biológica que, em última instância, gera a cura.
Naturalmente,
o fenômeno do placebo é pouco estudado. Numa sociedade onde um dos mais
relevantes setores geradores de inovações, lucro e movimento na
atividade financeira do mundo é a indústria farmacêutica, nada que
desvie desta “rota tecnológica” da intervenção farmacológica será
estimulado, na melhor das hipóteses, e, na pior, será abertamente
inibido.
Mas
o fenômeno não só existe, como expõe de forma incontestável o potencial
das “ferramentas mentais” (mindtools), formas de intervenção sobre as
ações e reações físicas e mentais das pessoas baseadas em estímulos
gerados inteiramente no âmbito cognitivo. O efeito placebo é um “deceit”
– um engodo, uma farsa: o paciente é convencido de uma mentira. Até
hoje, o foco da questão do placebo esteve na mentira e portanto no
chamado poder de “auto-sugestão”. E se mudássemos o foco e
enfatizássemos o elemento “convencimento”?
A
questão muda caleidoscopicamente. Independente de onde veio a
“certeza”, o que importa é que ela seja imprimida no funcionamento
mental da pessoa. Como sabemos que qualquer que seja sua origem, tem
poder, então automaticamente identificamos a ferramenta real de
intervenção: gerar uma crença.
Essa
certeza nos leva a um outro conceito, derivado da filosofia,
epistemologia, neuro-linguística e também de correntes esotéricas,
chamado “meta-crença” (meta-belief). A meta-crença, também
chamada por alguns de “pirataria de paradigma” ou “meta-programação”
consiste em adotar e descartar livremente crenças e visões de mundo
arbitraria e deliberadamente. Esse conceito tem uma aplicação prática
imediata, explorada por alguns: se crenças podem ser adotadas,
imprimidas na mente, forçadas a operar e podem ser logo em seguida
descartadas, o emprego do potencial endógeno de cura, produção de
idéias, substâncias químicas e de capacidades funcionais variadas está
pronto para utilização.
Todas
elas são relevantes, mas a que me diz respeito de forma mais imediata
aqui é a possibilidade de desinibir as barreiras mentais para
performance esportiva através destes mecanismos.
Não
requer religião, fidelidade a nenhuma escola de pensamento e nem o uso
de drogas. Requer apenas que se acredite que acreditar é um poder de
maior magnitude do que todas estas coisas juntas.
Marilia
Referências bibliográficas:
Jan Rajagopal, S. (2006). “The placebo effect”. Psychiatric Bulletin, 30, 185-188.
RIET, G.T., De CRAEN, A. J., De BOER, A., et al (1998) “Is placebo analgesia mediated by endogenousopioids? A systematic review.” Pain, 76,273-275
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