CRÍTICA DO FILME [COM SPOILERS]
COTAÇÃO: ★★
O Poço 2 mergulha novamente no claustrofóbico centro de autogestão vertical, uma metáfora distópica brutalmente impactante sobre a desigualdade social e a luta pela sobrevivência. Com uma estrutura narrativa similar ao filme anterior lançado em 2019, o longa explora as dinâmicas de poder e as consequências devastadoras da ganância humana em um ambiente onde recursos são escassos. A prisão de 333 andares e a plataforma de comida que desce gradualmente pelos níveis são representações simbólicas da distribuição desigual de recursos no mundo real, onde os que estão "no topo" desfrutam de abundância enquanto os "de baixo" lutam pela mera sobrevivência.
Desta vez temos como protagonistas os personagens Zamiatin e Perempuan, eles oferecem uma visão complexa das reações humanas diante do desespero. Zamiatin, com seu passado de matemático desiludido, traz uma perspectiva racional e analítica, mesmo que uma motivação vazia e simplória; enquanto Perempuan, com um passado trágico e misterioso, adiciona profundidade emocional à trama. A relação entre os dois evolui de forma natural, revelando a vulnerabilidade de ambos diante das adversidades extremas. Porém, o sacrifício de Zamiatin para proteger Perempuan reflete o quão inescapável é o ciclo de opressão e violência dentro do sistema prisional.
O surgimento de facções como os Lealistas e os Bárbaros dentro da prisão ilustra a polarização que ocorre em qualquer sociedade quando os recursos são mal distribuídos. A tensão crescente entre essas facções culmina em cenas de violência visceral, com uma coreografia brutal que deixa o espectador imerso na selvageria do mundo criado. A figura mítica do "Messias" e seus seguidores Ungidos adiciona uma camada religiosa e filosófica à narrativa, questionando até que ponto a fé e o sacrifício pessoal podem realmente influenciar uma mudança sistêmica.
Visualmente o filme utiliza também a obra *O Cão*, do pintor espanhol Francisco de Goya (1746-1828) como um dispositivo narrativo na trama. A pintura simboliza desespero e impotência, capturando o sentimento de abandono e desumanização vivido pelos prisioneiros. A ideia de escapar através da morte ou de fingir a própria morte sugere uma crítica ao sistema que destrói a esperança e força as pessoas a recorrerem a medidas extremas.
O final revela o uso de crianças para manipular prisioneiros, como um golpe final na psique do espectador, destacando o ciclo interminável de controle e exploração social. A presença de Goreng com uma criança no clímax do filme questiona se há uma verdadeira possibilidade de fuga ou se todos estão destinados a perpetuar a miséria do sistema.
No geral, tanto o primeiro quanto este funcionam como críticas sociais perturbadoras e visualmente impactantes, desafiando o espectador a refletir sobre questões de moralidade, justiça e solidariedade. Com uma narrativa cheia de reviravoltas e um final aberto a múltiplas interpretações, o filme se solidifica como uma peça provocativa no gênero distópico, mas que ficou devendo em relação ao primeiro tanto no desenvolvimento dos personagens quanto no ritmo imposto à resolução dos conflitos.
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ENREDO DO FILME
O Centro de Autogestão Vertical é uma prisão distópica com uma estrutura única: 333 andares com um buraco no centro. A cada dia, uma plataforma carregada de comida desce por esse buraco, parando em cada nível por dois minutos. Os prisioneiros nos andares superiores têm acesso à comida primeiro, enquanto aqueles nos níveis inferiores correm o risco de passar fome. No final de cada mês, os prisioneiros são aleatoriamente redistribuídos para novos andares. Antes de entrar, cada prisioneiro é entrevistado e pode trazer um item pessoal.
A história segue principalmente dois novos prisioneiros: Zamiatin, que pede pizza como sua refeição diária, e Perempuan, que escolhe croquetes de presunto. Eles são inicialmente colocados no nível 24, onde encontram a dinâmica social da prisão. Existem duas facções entre os prisioneiros: os Lealistas, que seguem regras autoimpostas sobre comer apenas sua comida escolhida ou trocar voluntariamente, e os Bárbaros, que comem o que puderem pegar. Robespierre, um Lealista do nível 23, apresenta-lhes esse sistema, argumentando que garante uma distribuição de alimentos mais justa.
As tensões rapidamente aumentam quando os prisioneiros dos níveis superiores comem comida destinada a outros. Um conflito violento eclode, resultando em mortes e feridos. Perempuan e Robespierre lutam para defender seu nível e manter a ordem. Durante o caos, eles aprendem sobre "O Mestre" ou "O Messias", uma figura mítica que supostamente sobreviveu um mês sem comida através da meditação, sacrificando sua própria perna para alimentar os outros nos níveis mais baixos. Seus seguidores, conhecidos como os Ungidos, espalham sua mensagem de solidariedade.
Com o passar dos dias, Zamiatin e Perempuan se aproximam, compartilhando comida e histórias pessoais. Zamiatin revela seu passado como um matemático desiludido, enquanto Perempuan insinua um passado trágico envolvendo o filho de seu ex-parceiro. O relacionamento deles é interrompido quando são realocados para o nível 180, onde nenhuma comida os alcança. Zamiatin, já doente, se sacrifica para proteger Perempuan de ser punida por abrigá-lo.
No mês seguinte, Perempuan é emparelhada com Sahabat no nível 51. Sahabat, que não tem um braço, compartilha suas experiências traumáticas com os Ungidos, especialmente com um líder brutal chamado Dagin Babi. Elas descobrem que Dagin está sistematicamente matando Bárbaros por toda a prisão. Perempuan se junta a um grupo para confrontá-lo, resultando em um encontro violento que a deixa traumatizada e sem um braço.
A pintura de Goya, *O Cão*, é usada como um dispositivo de enredo.
Sahabat revela um plano potencial de fuga: fingir a morte consumindo uma substância tóxica, esperando ser descartada fora da instalação. Ela acredita que uma pintura a óleo trazida por um prisioneiro poderia servir a esse propósito. Essa informação torna-se crucial para as ações subsequentes de Perempuan.
No mês seguinte, Perempuan acorda no nível 72 com um novo companheiro de cela, Trimagasi, cujo item pessoal é uma faca. Desiludida com os ideais Lealistas, Perempuan recruta um grupo de Bárbaros, ostensivamente para desafiar os Lealistas, mas secretamente para ajudá-la a encontrar a pintura de que precisa para escapar.
Uma batalha massiva ocorre entre os Lealistas, liderados por Dagin Babi, e o grupo de Bárbaros de Perempuan. A luta é brutal e sangrenta, deixando quase todos mortos. Apenas Perempuan e Trimagasi sobrevivem. Perempuan decide tentar o plano de fuga, comendo sua pintura a óleo e desmaiando.
Ela acorda entre corpos sendo descartados, percebendo que chegou ao nível 333. Aqui, Perempuan faz uma descoberta chocante: a instalação mantém crianças como ferramentas para manipular os prisioneiros, usando-as como falsos símbolos de esperança ou para impedir tentativas de fuga. Ela tenta salvar um menino, mas falha devido à estranha gravidade desse nível.
A história conclui com Perempuan no nível mais baixo da prisão. Ela testemunha mais prisioneiros chegando com crianças, revelando a natureza cíclica e manipuladora do sistema prisional. Em uma reviravolta surpreendente, ela se reúne com seu noivo Goreng, que chega carregando uma garota.
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