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quarta-feira, 11 de junho de 2025

SARCÓFAGO

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A banda Sarcófago é um dos pilares do metal extremo brasileiro e mundial, especialmente por sua contribuição seminal para o que viria a ser conhecido como Black Metal e Death Metal. Originária de Belo Horizonte, Minas Gerais, em 1985, a banda sempre foi liderada pela figura controversa de Wagner Antichrist (vocal/guitarra) e Gerald "Incubus" Minelli (baixo).

🎤Entrevista de Gerald "Incubus" para Goblin Underground TV.


História e Evolução Musical / ÁLBUNS:

A trajetória do Sarcófago é marcada por fases distintas:

  • Primeiros Anos e "I.N.R.I." (1985-1988): A banda surgiu do efervescente cenário mineiro, do qual também emergiu o Sepultura (Wagner, inclusive, foi vocalista do Sepultura por um breve período antes da formação do Sarcófago). A fase inicial foi de um som cru, violento e extremamente blasfemo. O álbum de estreia, "I.N.R.I." (1987), é considerado um marco fundamental. Com sua produção "suja" e agressividade visceral, ajudou a moldar a primeira onda do Black Metal, influenciando diretamente bandas escandinavas que formariam a "segunda onda" do gênero. O baterista D.D. Crazy, nesse álbum, é creditado por alguns como um dos pioneiros no uso de blast beats de forma proeminente.
  • "Rotting" (EP, 1989): Uma fase de transição, onde a banda já se apresenta como um trio. Mantém a extrema violência, mas começa a mostrar sinais de uma sonoridade um pouco mais variada, com toques de thrash e até alguns teclados, que seriam explorados mais a fundo em trabalhos posteriores.
  • "The Laws of Scourge" (1991): Como já discutimos, este álbum representa um salto na qualidade da produção e na complexidade musical. A banda adota um Death Metal mais técnico e melódico, incorporando elementos de Thrash e até Doom. É um disco que chocou muitos fãs do som cru do "I.N.R.I.", mas que provou a versatilidade e a capacidade de composição do Sarcófago.
  • "Hate" (1994): Um retorno a uma sonoridade mais crua e agressiva, embora com a produção mais limpa mantida de "Laws of Scourge". É mais direto e brutal, com um ritmo implacável, talvez uma resposta às críticas de "amansamento" recebidas por "Laws".
  • "The Worst" (1997) e "Crust" (EP, 2000): Estes foram os últimos trabalhos da banda, com "Crust" sendo o canto do cisne. "The Worst" manteve a linha agressiva, enquanto "Crust" explorou um som ainda mais punk/hardcore. A banda encerrou suas atividades em 2000.

Estética e Imagem:

A estética do Sarcófago é quase tão influente quanto sua música, especialmente na era "I.N.R.I.":

  • Corpse Paint: O Sarcófago é amplamente reconhecido por ter popularizado o uso do corpse paint (maquiagem preta e branca no rosto para parecer um cadáver) e outros elementos visuais extremos como cinturões de balas, braceletes de pregos e cruzes invertidas. A capa de "I.N.R.I." com os membros da banda pintados e com visual agressivo se tornou icônica e foi uma referência visual fundamental para muitas bandas de Black Metal, especialmente na Noruega.
  • Provocação Visual: As capas dos álbuns e as fotos da banda eram intencionalmente chocantes e provocadoras, visando subverter a moralidade cristã e os bons costumes. A capa de "Rotting", que mostrava a Morte beijando Jesus Cristo, é um exemplo claro dessa ousadia.
  • Mudança Estética: Em "The Laws of Scourge" e álbuns posteriores, a banda abandonou o corpse paint e o visual extremo, optando por uma estética mais "limpa" (cabelos cortados, etc.), o que também gerou polêmica e críticas de "traição" por parte de alguns fãs puristas. Wagner Lamounier chegou a dizer que "qualquer playboyzinho curtidor de Pearl Jam tem cabelo comprido hoje", justificando a mudança para se desvincular de uma imagem que se tornava genérica.

Temática das Canções:

As letras do Sarcófago são um reflexo direto de sua postura de choque e rebelião:

  • Anticristianismo e Blasfêmia: Este é o pilar temático da banda. As letras são abertamente satânicas, anticristãs e cheias de blasfêmia, criticando a religião, a moralidade e a hipocrisia.
  • Niilismo e Existencialismo Sombrio: Há uma profunda desesperança e ceticismo em relação ao sentido da vida, à existência de Deus e a qualquer propósito maior. As letras frequentemente abordam temas como a futilidade da existência, a inevitabilidade da morte, e a insignificância da vida humana.
  • Violência e Depravação: Crueldade, tortura, estupro e outras formas de depravação humana são exploradas de forma gráfica e sem filtros, servindo como uma forma de choque e de confronto com os limites da moralidade.
  • Misantropia: Um desprezo generalizado pela humanidade, vista como fraca, hipócrita e corrupta.
  • Ocultismo e Misticismo Negro: Embora menos central que o anticristianismo, há referências a práticas ocultas e rituais sombrios, contribuindo para a atmosfera de perversão e mistério.

Curiosidades:

  • Pioneirismo: O Sarcófago é frequentemente citado por músicos e críticos como uma das bandas mais importantes na definição do Black Metal, especialmente pela sua estética e pela agressividade de "I.N.R.I.".
  • Influência no Sepultura: Wagner Lamounier foi vocalista do Sepultura por um ano antes da banda sequer ter o nome "Sepultura" e gravar material. Sua saída foi o gatilho para a formação do Sarcófago.
  • Rejeição à Qualidade de Gravação: Apesar de ter uma produção "suja" em "I.N.R.I.", Wagner Lamounier criticava o lo-fi proposital de algumas bandas de Black Metal escandinavas, chegando a dizer que a guitarra de Burzum soava como se tivesse sido gravada "através de um rádio de pilha".
  • Educação dos Membros: Apesar da imagem extrema, Wagner Lamounier é formado em Economia, e Gerald Minelli em Enfermagem, o que desmistifica um pouco a imagem de "selvagens" para muitos.
  • Turnês limitadas: A banda teve poucas oportunidades de tocar fora do Brasil, e suas turnês europeias nos anos 90 foram, segundo eles próprios, mal organizadas.

O Sarcófago é, sem dúvida, uma banda que deixou uma marca indelével na história do metal extremo. Sua audácia musical e visual, combinada com letras brutais e filosóficas, garantiu seu status de lenda, inspirando gerações de músicos no mundo todo.


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THE LAWS OF SCOURGE / 2º ÁLBUM DA BANDA SARCÓFAGO (1985-2000)

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A Filosofia Brutal de "The Laws of Scourge" do Sarcófago

O álbum "The Laws of Scourge", lançado pelo Sarcófago em 1991, marca uma fase de transição e amadurecimento da banda. Saindo do caos cru do black/death metal inicial, este trabalho incorpora elementos mais técnicos e até alguns toques de thrash, sem, no entanto, abandonar a sua essência sombria e confrontadora. Filosoficamente, as faixas refletem uma visão de mundo niilista, anticlerical, e profundamente cética em relação às normas sociais e religiosas. O Sarcófago, aqui, não apenas toca música, mas provoca, questiona e desafia.

Vamos analisar as faixas e seus temas sob essa ótica:


1. "The Laws of Scourge" (As Leis do Flagelo)

  • Tema Central: A faixa-título já estabelece o tom. O "flagelo" (scourge) pode ser interpretado como um castigo, uma praga ou uma força destrutiva. As "leis" desse flagelo sugerem uma ordem inerente ao caos, uma inevitabilidade da dor e da punição, seja ela divina, existencial ou imposta por uma força superior.
  • Análise Filosófica: Há um forte determinismo aqui. A humanidade está sujeita a leis que a afligem, e essas leis são inerentes à existência, não passíveis de contestação. Pode-se ver um reflexo do niilismo, onde a vida é vista sob a ótica de sofrimento e aniquilação, regida por princípios implacáveis. Há também uma insinuação de que o julgamento e a destruição são forças universais, talvez até desejáveis em um sentido purificador ou retributivo.

2. "Piercings" (Perfurações)

  • Tema Central: Embora o título possa remeter a adornos corporais, no contexto do Sarcófago, "Piercings" é mais profundo. Pode-se interpretar como as marcas que a vida, as experiências ou mesmo as crenças (ou a falta delas) deixam no indivíduo. São feridas que se tornam parte da identidade, talvez até uma forma de martírio autoimposto ou existencial.
  • Análise Filosófica: A canção explora a condição humana marcada pela dor e pela experiência. As "perfurações" são as cicatrizes da existência, as verdades que penetram fundo e as convicções que moldam o ser. A faixa pode ser uma metáfora para a desfiguração da alma pelas realidades brutais da vida, ou a aceitação da dor como parte do ser. Há uma celebração da individualidade e da resistência, mesmo que essa resistência se manifeste através da aceitação das marcas da existência.

3. "Midnight Queen" (Rainha da Meia-Noite)

  • Tema Central: Esta canção introduz uma figura feminina enigmática e poderosa, associada à escuridão e à noite. Ela pode simbolizar a morte, a tentação, a sabedoria oculta, ou uma força feminina de poder sombrio e sedutor. É uma figura que opera nas sombras, longe da luz da moralidade diurna.
  • Análise Filosófica: A "Midnight Queen" pode ser vista como uma manifestação da sombra junguiana ou de forças arquetípicas reprimidas pela sociedade. Ela representa o lado obscuro e sedutor da existência, a rejeição da luz divina e a aceitação da escuridão interior. Há um convite à entrega ao proibido, ao irracional, e ao poder que reside fora das convenções. É uma figura que desafia a moralidade e a pureza, abraçando a decadência e o mistério.

4. "Screeches from the Silence" (Gritos do Silêncio)

  • Tema Central: Essa faixa sugere uma profunda angústia existencial que irrompe do vazio e da quietude. O "silêncio" pode ser o vazio do universo, a ausência de Deus, ou a opressão de uma sociedade sufocante. Os "gritos" são a manifestação do desespero, da revolta ou da dor que não podem ser contidos.
  • Análise Filosófica: Aqui, o Sarcófago mergulha no existencialismo sombrio. O silêncio cósmico (a ausência de respostas divinas ou de sentido inerente) gera uma agonia que se manifesta em gritos de desespero. É a voz da anarquia interior, da revolta contra a futilidade da existência ou da reação à opressão externa. A canção ecoa a ideia de que, no vácuo da existência, o que resta é o grito primal da consciência em sofrimento.

5. "Prelude to a Suicide" (Prelúdio para um Suicídio)

  • Tema Central: Como o título indica, a canção explora os pensamentos e o processo mental que antecedem o ato de tirar a própria vida. Não necessariamente uma apologia, mas uma investigação fria e sombria dos motivos e da resignação.
  • Análise Filosófica: Esta é uma reflexão sobre a liberdade extrema e a condição de desespero. O suicídio, nesse contexto, pode ser visto não como um ato de covardia, mas como a última forma de controle sobre a própria existência em um mundo percebido como sem sentido ou insuportável. A banda explora a angústia da escolha derradeira, o esgotamento da vontade de viver, e a inevitabilidade de um fim autodeterminado, uma temática sombria, mas recorrente em filosofias niilistas e existencialistas radicais.

6. "The Black Vomit" (O Vômito Negro)

  • Tema Central: Uma das faixas mais icônicas e brutalmente diretas do Sarcófago, "The Black Vomit" é uma ode à repulsa, à depravação e à libertação através do grotesco. O "vômito negro" é a expulsão de tudo que é puro, sagrado e moralmente aceitável, em um ato de profanação.
  • Análise Filosófica: Esta canção é uma manifestação extrema do anti-religioso e do anticristão, uma característica marcante do black metal. É a profanação do sagrado, a rejeição veemente da moralidade e da pureza em favor da imundície e do caos. Filosóficamente, pode ser vista como uma catarse da aversão, um grito de guerra contra as imposições morais e um abraço à anarquia do corpo e do espírito, similar a conceitos de transgressão e libertação através do vil encontrados em pensadores como Bataille.

7. "Secrets of a Widow" (Segredos de uma Viúva)

  • Tema Central: Esta faixa mais longa e complexa pode contar a história de uma mulher que guarda verdades sombrias após a perda, ou que talvez seja a personificação de um luto que revela verdades amargas sobre a vida e a morte. A "viúva" é uma figura que enfrentou a perda e, através dela, obteve um conhecimento amargo.
  • Análise Filosófica: Aqui, o Sarcófago explora a sabedoria adquirida através do sofrimento e da perda. A "viúva" possui "segredos" porque ela presenciou a finitude, a fragilidade da vida e a inevitabilidade da morte de uma forma íntima. Essa faixa pode ser uma reflexão sobre a natureza da existência pós-perda, onde as ilusões são quebradas e uma verdade mais sombria e crua emerge. É um mergulho na melancolia existencial e na compreensão de que o luto pode ser uma fonte de conhecimento profundo, embora doloroso.

Conclusão Geral sobre "The Laws of Scourge"

"The Laws of Scourge" é um álbum que, em sua essência, abraça o niilismo, o existencialismo sombrio e o anticlericalismo. As letras são carregadas de imagens de dor, destruição, rebelião e uma aceitação crua da feiura e da verdade desconfortável da existência. O Sarcófago, com sua sonoridade então mais lapidada, entrega um manifesto que não busca conforto ou redenção, mas sim a confrontação com as leis implacáveis de um universo indiferente e de uma humanidade falha e autoflagelante. É uma obra para quem busca a música como reflexo de uma filosofia sem véus, que explora os recantos mais sombrios da alma e da realidade.


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segunda-feira, 17 de março de 2025

REPROGRAMAÇÃO 17 03 2025


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Dia mais cansativo, não pude parar para escutar muita coisa hoje. Pela manhã escutei o álbum Black Dog Barking (2013) do Airbourne, banda australiana de Hard Rock/Heavy Metal criada em 2003. À tardinha curti um pouco da banda de Death Metal norte-americana Immolation com o álbum  Close to a World Below (2000) e à noite parei para viajar na fantástica banda nacional Sarcófago com os álbuns The Laws of Scourge (1991), Hate (1994) e The Worst (1997).


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