Álbum: Voidkind (2024)
Banda: Dvne
Primeira faixa do álbum Voidkind, Summa Blasphemia é densa e carregada de imagens poderosas, evocando temas de destruição do conhecimento, perseguição religiosa e o apagamento da memória. É uma representação vívida de um ato de aniquilação cultural e espiritual.
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Summa Blasphemia
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Cremated scrolls
Stripped of lore
Incinerate fealty
In fervent ire
Grey ashes
Felled atheneum
Cleansed of heresy
Grey ashes, grey ashes fall
Scripture as blade
Blades of God
Their scribes' ink runs dry
In sacred fire
Lifeless heathens
Scholars cursed
Undeserved rest
Repast of crows
Feast of carrion
Laid in acropolis
Amongst salted dirt
Amongst salted bodies
Desacralised souls
Desacralised vessels
Lessons of loss learned
Vestiges
Grave silent halls
Bereft of heresy
Grey ashes, grey ashes fall
Cessation of saline rains, cessation
Cessation of saline rains, cessation
Raise no cairns
No remembrance
Say nothing of them
Leave nothing, nothing
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ANÁLISE DA LETRA
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"Cremated scrolls / Stripped of lore / Incinerate fealty / In fervent ire"
"Cremated scrolls / Stripped of lore": Início impactante, descrevendo a queima de manuscritos antigos, que simbolizam conhecimento, história e sabedoria ("lore"). A perda do conhecimento é central aqui.
"Incinerate fealty / In fervent ire": Sugere a destruição da lealdade ou da fé, impulsionada por uma raiva intensa e fanática. Isso aponta para um ato de perseguição ideológica ou religiosa.
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"Grey ashes / Felled atheneum / Cleansed of heresy / Grey ashes, grey ashes fall"
"Grey ashes": O resultado da destruição, simbolizando o que restou após a queima, a nulidade e a morte.
"Felled atheneum": Um "ateneu" era um templo de Atena, mas também um local de aprendizado e debate. "Felled" (derrubado, abatido) indica a destruição de um centro de conhecimento.
"Cleansed of heresy": Uma justificativa para a destruição – a eliminação de ideias consideradas "heréticas". Isso revela uma mentalidade dogmática e intolerante.
"Grey ashes, grey ashes fall": A repetição reforça a inevitabilidade e a extensão da destruição.
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"Scripture as blade / Blades of God / Their scribes' ink runs dry / In sacred fire"
"Scripture as blade / Blades of God": A própria escritura ou doutrina se torna uma arma, usada para justificar a violência e a perseguição, como se fosse a vontade divina.
"Their scribes' ink runs dry / In sacred fire": Os escribas (aqueles que registravam o conhecimento) são silenciados, e sua capacidade de escrever se esgota. O "fogo sagrado" é irônico, pois é "sagrado" para os perseguidores, mas destrói o que é valioso para os perseguidos.
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"Lifeless heathens / Scholars cursed / Undeserved rest / Repast of crows / Feast of carrion"
"Lifeless heathens / Scholars cursed": Aqueles que foram considerados "infiéis" ("heathens") ou que detinham o conhecimento ("scholars") são agora mortos e amaldiçoados.
"Undeserved rest": Aponta para a morte como um "descanso" não merecido (pelos perseguidores) ou forçado.
"Repast of crows / Feast of carrion": Imagens brutais de corvos se alimentando de carne em putrefação, reforçando a completa desconsideração e o fim degradante dos mortos.
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"Laid in acropolis / Amongst salted dirt / Amongst salted bodies / Desacralised souls / Desacralised vessels"
"Laid in acropolis": Uma acrópole era uma cidade alta, frequentemente com templos importantes. Ser "colocado na acrópole" é uma profanação, pois o lugar sagrado se torna um cemitério indigno.
"Amongst salted dirt / Amongst salted bodies": O uso de salgar a terra é uma tática antiga para torná-la infértil e estéril, simbolizando a impossibilidade de vida ou renascimento. "Corpos salgados" reforça a desfiguração e a profanação dos restos mortais.
"Desacralised souls / Desacralised vessels": A profanação não é apenas física, mas espiritual. As almas e os corpos (vessel) são despojados de qualquer santidade ou respeito.
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"Lessons of loss learned / Vestiges / Grave silent halls / Bereft of heresy / Grey ashes, grey ashes fall"
"Lessons of loss learned": Sugere que algo foi compreendido através dessa destruição, mas é uma lição dolorosa e trágica sobre a perda irreparável.
"Vestiges / Grave silent halls": Restam apenas vestígios do que um dia existiu. Os "salões silenciosos e graves" (solenes, mas também de túmulo) evocam um vazio assombroso.
"Bereft of heresy": A ironia final: o local foi "purificado" da heresia, mas a que custo? O resultado é um silêncio mortal.
"Grey ashes, grey ashes fall": Retoma a imagem das cinzas, fechando o ciclo de destruição.
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"Cessation of saline rains, cessation / Cessation of saline rains, cessation"
"Saline rains": Pode ser interpretado como lágrimas salgadas (de dor, luto) ou talvez a ideia de um "dilúvio" que purifica (ou destrói). A "cessação" (parada) dessas chuvas sugere um fim da lamentação ou um esgotamento total das emoções.
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"Raise no cairns / No remembrance / Say nothing of them / Leave nothing, nothing"
"Raise no cairns / No remembrance": Um cairn é um monte de pedras que serve como monumento ou marcação de sepultura, para recordar. A ordem é para não haver nenhuma lembrança, para que a memória dos destruídos seja completamente apagada.
"Say nothing of them / Leave nothing, nothing": A intenção final é um apagamento absoluto, que não reste nada que possa lembrar essas pessoas ou o conhecimento que possuíam. É o total silenciamento e a negação de sua existência.
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Tradução para o Português
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Pergaminhos cremados
Despojados de saber
Incinerar a lealdade
Em ira fervorosa
Cinzas cinzentas
Ateneu derrubado
Limpo de heresia
Cinzas cinzentas, cinzas cinzentas caem
Escritura como lâmina
Lâminas de Deus
A tinta de seus escribas seca
Em fogo sagrado
Pagãos sem vida
Estudiosos amaldiçoados
Descanso imerecido
Banquete de corvos
Festa de carniça
Deitados na acrópole
Entre terra salgada
Entre corpos salgados
Almas dessacralizadas
Vasos dessacralizados
Lições de perda aprendidas
Vestígios
Salões silenciosos e graves
Desprovidos de heresia
Cinzas cinzentas, cinzas cinzentas caem
Cessação de chuvas salinas, cessação
Cessação de chuvas salinas, cessação
Não ergam marcos
Nenhuma lembrança
Não digam nada sobre eles
Não deixem nada, nada
A letra é uma poderosa alegoria sobre a destruição da cultura, da história e da memória por forças dogmáticas e violentas. Ela fala sobre o genocídio cultural e a tentativa de apagar completamente a existência de um grupo ou de suas ideias, deixando para trás apenas o vazio e as cinzas.
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